Onde é seguro comprar peixe?
17 de agosto de 2015Segurança alimentar é – ou deveria ser – um dos pilares de toda a cadeia dos pescados – do pescador ao cozinheiro, passando pelo distribuidor e pelo comerciante.
Quando o foco é o ponto de venda, Fernanda Brossi Gutierre, nutricionista especialista em vigilância sanitária pela USP, tranquiliza quem gosta de peixes, mas se preocupa com a qualidade: apenas prestando atenção em alguns aspectos dos peixes e do estabelecimento, o consumidor tem condições de fazer escolhas bem saudáveis.
Ela ressalta a seguir os cuidados específicos que os supermercados, peixarias e feiras livres devem ter, como evitar bancadas de madeira, verificar a temperatura dos refrigeradores e as características sensoriais do produto.
BLOG – Quais aspectos devem ser observados na hora de comprar peixe fresco?
FERNANDA BROSSI GUTIERRE – Devemos estar atentos a simples indicações de qualidade, que já são bem conhecidas de consumidores e são também instruções da ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária).
Análise dos olhos: devem estar brilhantes, sem manchas esbranquiçadas no meio e preencher toda cavidade ocular
Membrana: verifique a membrana que reveste guelra: deve ser rígida, oferecer resistência à sua abertura. A face interna deve estar brilhante e os vasos sanguíneos cheios e fixos.
Brânquias: de cor rosa ao vermelho intenso, úmidas e brilhantes, ausência ou discreta presença de muco (líquido pastoso).
Aparência: não pode apresentar furo, cortes ou manchas na superfície da carne. A pele tem que estar úmida e bem aderida.
Escamas: firmes, resistentes e brilhantes.
Cheiro: analisar se o cheiro está característico da espécie que se trata. Não pode apresentar odor fétido.
Conservação: deve ser mantido sob refrigeração e/ou sobre uma espessa camada de gelo.
Qual são a maneira e o local ideais para a exposição dos produtos?
Os peixes devem estar em bancadas em adequado estado de conservação e higiene, totalmente coberto por camadas de gelo. Se houver odor forte, desconfie da higiene do local e da qualidade do produto.
De que tipo de aparência ou ambiente devemos fugir?
Estrutura danificada, com excesso de umidade e com bancadas em mau estado de conservação são fatores de risco para um produto sem qualidade e, possivelmente, contaminado.
Nunca compre de estabelecimentos/feiras em que a bancada seja de madeira – indicador de falta de higiene e grande risco de contaminação.
Quais as regras para a compra de peixes congelados?
Verifique se o produto está armazenado na temperatura de conservação informada pelo fabricante na embalagem.
Os produtos não podem estar amolecidos ou com acúmulo de líquidos, sinal de que passaram por um processo de descongelamento. A presença de gelo ou muita água indica que o balcão foi desligado ou teve problemas de temperatura. O balcão de congelados possui registrador de temperatura visível aos clientes.
Dá para saber se o peixe foi descongelado e congelado novamente pelo seu aspecto?
Sim. Se observar atentamente, o peixe perde o formato em que foi congelado e ao congelar novamente, cria cristais de gelo, onde pode ocorrer o crescimento de bactérias. Também é possível verificar cristais de gelo no restante da embalagem.
O fato do peixe de feira livre não ter prazo de validade nem embalagem deve ser um motivo de preocupação do consumidor?
As feiras livres foram pioneiras na comercialização de peixes para o consumidor final. Os peixes eram e, em alguns casos, ainda são comprados em grandes mercados municipais, onde há inspeção federal.
O problema sempre foi a maior falta de higiene na feira: bancadas de madeira, moscas, presença de animais domésticos e pombas, falta de higienização de utensílios e mãos, falta de uniformes, além de a embalagem ser o jornal ou outro papel similar.
Hoje as feiras já contam com regras de higiene (dependendo de cada município) e muitas já possuem vitrines para manter a camada de gelo livre de contaminantes do ar e assim, garantir temperatura adequada. Algumas barracas de peixes de feiras possuem até pia para higiene das mãos e utensílios.
A validade dos peixes frescos não é obrigatória nas feiras livres devido à falta de rastreabilidade de origem, situação que não ocorre em grandes fornecedores. Mas, atualmente, já é possível verificar plaquinhas com validade em alguns municípios. Por isso, é necessário sempre estar atento às qualidades sensoriais dos peixes. São regras simples, mas que são imprescindíveis para a compra de um produto de qualidade.
Essas regras todas mudam se a pessoa está comprando peixe em uma cidade litorânea ou a algumas centenas de quilômetros da costa?
Tive a oportunidade de passar uma noite em um entreposto de pescados, aguardando os barcos chegarem ao local. O comércio inicial, no meio da madrugada, era para grandes estabelecimentos e após o local era aberto para feirantes e pequenos comerciantes. Ou seja, os grandes estabelecimentos têm a chance de comprar produtos em melhores condições e, se transportados e mantidos em condições e temperaturas adequadas, podem ter boa qualidade, mesmo estando longe do local.
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